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quinta-feira, 5 de abril de 2012

[COLUNA] “Magia é poder”: a ilusão da supremacia

          É corriqueiro e natural entre os potterianos, ter na ponta da língua algo que aprenderam com cada um dos muitos personagens da série Harry Potter. Basta suscitar um nome e lá estará um aprendizado associado ao citado. Hoje o assunto não será o já bem explorado aprendizado extraido com este ou aquele personagem criado por J.K., hoje o assunto é o conjunto da obra, é a mensagem global que foi sendo passada sutil e sensivelmente ao longo dos livros, como um floco suave de neve que foi descendo a ladeira e se tornando uma colossal esfera ameaçadora e não menos impactante: a intolerância e preconceito como fonte de caos entre os humanos (bruxos ou trouxas).
            Depois de passar pelos sete volumes da série e voltar a ver o primeiro, fica-se espantado com a grandiosidade do que foi exposto de modo inicialmente lúdico e depois crescentemente dramático e sério. J.K. embalou crianças à noções do que a falta do respeito mútuo pode provocar.  
Lemos inicialmente pequenas mostras de intolerância e ainda podemos lembrar o quanto essa postura descrita nas cenas nos despertou reprovação em relação a ela. Certamente você sentiu antipatia por Draco quando fez pouco caso de Ron em razão deste último pertencer a uma família pobre, temos aí o preconceito socio-econômico. Depois você também não gostou nem um pouco de ver Hermione ser humilhada pelo sonserino por ser uma nascida trouxa, aqui está o preconceito de origem, ou como foi largamente dito: de sangue (mágico). Em contra partida, tudo que era da casa de Salazar era visto com maus olhos, o que nos leva a uma crescente barreira de intolerância e preconceito vivida e mostrada inicialmente dentro do lúdico ambiente escolar. A partir do livro cinco a mensagem global da série, sai do ambiente escolar e emana da sociedade bruxa como um todo, partindo dos conchavos políticos, aqui representados pelo Ministério da Magia, e do que podemos chamar de grupos paramilitares (tomando a licença do termo trouxa), ou seja, grupos clandestinos que agem pela ou contra a ordem, dentro de uma movimentação de pré-guerra, aí temos a Ordem da Fênix (pela ordem) e os Comensais da Morte (contra a ordem).
            Na série vemos que as raízes de uma guerra tem base em pensamentos, gestos e ações simples: o julgamento preconceituoso, a intolerância e o desrespeito a individualidade, origem e condição do outro. Coisas do tipo dão fundamento a ideias de supremacia de uma classe sobre uma outra considerada inferior por alguma característica julgada sem valor. Isso fica implícito num contraste realizado com dois monumentos que compuseram o átrio do Ministério da Magia. Na primeira vez que ele nos é apresentado em a Ordem da Fênix, somos conduzidos à apreciação do conjuto harmonioso e idealista de estátuas que levam o nome  “A Fonte dos Irmãos Mágicos”, composto por um bruxo, uma feiticeira, um centauro, um duende e um elfo doméstico. Há ali várias raças em um único plano numa mensagem idealizadora de igualdade e respeito. Na última vez que vemos o átrio do Ministério da Magia, em Relíquias da Morte, descobrimos que o novo regime político substituiu o monumento por um outro intitulado “Magia é poder”, onde nota-se claramente dezenas de seres humanos não bruxos sustentando dificultosamente nas costas um imenso bloco em cima do qual estavam uma bruxa e um bruxo em postura triunfante. O título do monumento deixa clara a mensagem de que somente a classe mágica era considerada dígna de respeito e valor e, portanto, deveria subjugar as demais. Assim fez Roma em relação aos povos que ela considerava “bárbaros”. Esses bárbaros que a história romana descreveu como seres desprovidos de boa cultura e conhecimento plausível, tinham sim seu valor enquanto formadores de uma cultura rica e desenvolvimento de tecnologia louvável. Muitos tinham organização urbana e social de fazer inveja aos romanos.

        Ao longo dos sete volumes da série Harry Potter, a ideologia nascida da aversão aos trouxas, bruxos nascidos trouxas e partidários contrários à supremacia bruxa, fez com que se instalasse um ambiente caótico de guerra com um regime e idealismo muito semelhante ao criado e difundido por Adolf Hitler entre os anos de 1939 e 1945. Hitler, responsável pelo Holocausto e pela Segunda Guerra Mundial, defendia a pureza da raça ariana, a “pureza de sangue” como elemento primordial para a criação de uma nação perfeita. Para tanto, seria necessário “limpar” o território daqueles que não fossem “puros”, e o mal se fez pelo “bem maior” pregado pela filosofia nazista. Grindelwald é o personagem que mais diretamente é assocido a Hitler em razão da data em que foi derrotado por Dumbledore (1945 – final da Segunda Guerra Mundial) e pelas ações que desenvolveu durante seu domínio, entre elas temos: desejo de subjugar os trouxas ao poderio bruxo, o que corresponde ao desejo de Hitler de subjugar as outras raças aos seus ideais; a adoção de um símbolo antigo, o símbolo das Relíquias da Morte, correspondendo a cruz suástica que também é um símbolo historicamente antigo, além disso, outro ponto semelhante é o uso de um local de concentração ou dentenção para aqueles que eram considerados uma “ameaça” a ideologia difundida. Grindelwald criou Nurmengard prisão que sustentava a seguinte inscrição: “Pelo Bem Maior”, um perfeito paralelo essencial com as placas que ostentavam as seguintes palavras na entrada do campo de concentração de  Auschwitz: "Arbeit Macht Frei" o que em alemão quer dizer: "O Trabalho Liberta".
 É bem claro que J.K. quis passar a sensação de que uma desestabilização no mundo bruxo gera efeitos no mundo trouxa ou vice e versa, o que foi bem pensado para a construção de uma atmosfera mais verosímel para a série. Mas além dessa associação brilhante, Rowling conseguiu, através da segunda guerra bruxa (ascenção de Voldemort), nos demonstrar um panorama impactante e hediondo ao qual o sentimento de superioridade e intolerância pode arrastar uma sociedade, bastando que um levante a bandeira obscura da subjugação para que outros, igualmente intolerantes, o sigam na ilusão de  supremacia sobre os demais.
Pode-se dizer que, aprende-se com a obra,  num sentido geral, entre outras coisas, que a compreensão e o respeito entre os indivíduos de qualquer sociedade, raça ou classe, é o princípio fundamental para a manutenção  da paz entre os humanos, a quebra desse princípio é o primeiro e perigoso passo para o caos.
Encontrei há algumas semanas um fan clip que com cenas bem escolhidas e sua trilha (This is War/ isso é guerra – 30 Seconds To Mars) nos mergulha de maneira muito profunda no drama da guerra descrita ao longo da série Harry Potter. Assistam e sintam, a letra da música  alia-se muito bem com as imagens e com a mensagem.





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