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quinta-feira, 15 de março de 2012

[COLUNA] O Mundo Bruxo e a Igualdade de Gêneros


Como feminista autodeclarada, tenho essa mania incontrolável de sempre analisar criticamente a forma como os gêneros são retratados nas mídias que eu aprecio e acompanho. Com Harry Potter não poderia ser diferente, principalmente se levarmos em conta seu alcance e sua capacidade de moldar as mentes de uma geração.

Antes que eu comece a usual exaltação à nossa adorada saga bruxa, precisamos esclarecer alguns pontos. Primeiramente, o que é “gênero”?
“É a representação social do sexo biológico. [...] o modo como as sociedades olham/pensam as pessoas do sexo masculino e as pessoas do sexo feminino; [...] sexo numa organização social.” (Wikipédia)
Tendo isso em vista, a “igualdade de gêneros” representa um estado em que ambos os gêneros estejam no mesmo patamar. Isso, infelizmente, em pleno século XXI, ainda não é realidade.

O gênero masculino ainda prevalece sobre o feminino de diversas formas. Na literatura, os sintomas disso são personagens femininas idealizadas – a famosa Mary Sue – e, muitas vezes, sem qualquer propósito ou ambição que esteja desvinculada de seu par romântico – a exemplo da sempre citada Bella Swan. Enquanto isso, apenas personagens masculinos têm o privilégio de serem diversificados, multifacetados, inúmeros e humanos.

O que sempre notei em Harry Potter é o modo como o princípio da Igualdade de Gêneros é intrínseco à sociedade bruxa. É um fundamento tão básico que sequer precisa ser discutido, pois nós o vemos nos pequenos detalhes.

Começando pelo Quadribol, que é um esporte misto, onde a habilidade do jogador independe de seu sexo, e onde a questão de mulheres e homens jogarem no mesmo time sequer é discutida. O Torneio Tribruxo, também apresenta participantes de ambos os gêneros competindo violentamente entre si..
Observando a sociedade no geral, homens e mulheres ocupam e sempre ocuparam os mesmos cargos de importância: Ministros da Magia, Diretores de Hogwarts, Professores, Aurores... Inclusive os Fundadores da Escola de Magia e Bruxaria foram dois homens e duas mulheres.

Em uma questão de construção de personagem, o que eu mais admiro no tratamento da Rowling desta questão, é que seu objetivo não é retratar mulheres como sendo mais fortes e superiores aos homens: ela escreveu uma série que retrata ambos os gêneros como igualmente passíveis de bondade, maldade, inteligência, bravura, covardia, defeitos e qualidades.

Ao mesmo tempo que temos vilões como Voldemort, temos vilãs como Bellatrix. Ao mesmo tempo que temos mulheres com instinto maternal como Molly Weasley, temos homens com instinto paternal como Hagrid. Ao mesmo tempo que temos homens despóticos e irritantes como Filch, temos também Dolores Umbridge. Para um professor inspirador como Lupin, temos McGonagall. Para um capitão de Quadribol mandão como Oliver Wood, temos a esquentada Angelina Johnson. Temos homens e mulheres capazes das piores atrocidades, como Amico e Aleto Carrow, e, ao mesmo tempo, homens e mulheres capazes dos maiores atos de bravura, como Severus Snape e Lily Evans.

A sutileza com que a igualdade de gêneros é retratada em Harry Potter abre portas para a inclusão de meninos e meninas na mesma leitura, na mesma aventura, no mesmo mundo ficcional, e semeia esse mesmo engajamento igualitário no mundo real. Graças a esse tipo de construção literária, um dia esses jovens perceberão que mais importante do que o gênero ao qual nós pertencemos é o fato de que somos todos humanos.

Somos todos igualmente capazes de manifestar as mais diversas características, independentemente do que é socialmente determinado para um homem e para uma mulher, e a nossa individualidade é incapaz de ser resumida em “masculino” e “feminino”.

Somos todos personagens complexos, partilhando a mesma saga.



2 comentários:

  1. HP consegue capturar a atenção de quem lê porque tem personagens interessantes, com muitos dramas que transcendem a realidade mítica, aproximando-se da nossa realidade. Fazendo uma comparação com o romance moderno Twilight, é possível observar que nesse último não há aprofundamento, os personagens são rasos, vazios, despidos de propósito.
    Ao perceber e comentar a igualdade de gêneros em Harry Potter, a Jade traz à luz um outro mérito da série, a equivalência entre seus bem descritos personagens.

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  2. Rowling é mesmo uma escritora admirável. Concordo com muito do que você disse, em Harry Potter nós conseguimos ver bem essa igualdade. E seus exemplos foram lindos, em 99% deles (okay, parei). Parando para pensar, é assim mesmo! :)

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