Minhas idéias para as colunas do OG parecem sempre surgir de conversas despretensiosas com os amigos, e devo dizer que não existe fonte melhor. Eu e o Will estávamos analisando esse nosso interesse quase patológico por vilões e anti-heróis, e o motivo disso nos parecia claro: porque eles são imperfeitos. Para encontrar a imperfeição não é necessário olhar apenas para os vilões e anti-heróis, no entanto. Apesar de encontrarmos neles defeitos mais recorrentes, um bom autor é capaz de tornar imperfeito cada um dos seus personagens.
Não existe pessoa no mundo que não tenha os seus defeitos, e é nisso que um autor deve se basear quando está criando um personagem – ele deve mimetizar uma pessoa real, seu funcionamento, o modo como suas vivências determinam as características de sua personalidade. Encare isso como um desenho a lápis, onde as sombras são os traços que realmente distinguem a forma: são os defeitos que distinguem o personagem, que fazem dele humano.
É por isso que, ao menos para os bons leitores, é muito difícil nutrir empatia ou até mesmo interesse por um personagem perfeito. A perfeição é bidimensional e tanto o autor quanto o leitor devem fugir da bidimensionalidade como o diabo foge da cruz.
Nisso podemos dizer que J.K. Rowling teve sucesso. Muitos de seus personagens – quase todos, aliás – têm sua luz e sua escuridão, suas qualidades e defeitos, suas vantagens e suas fraquezas. Podemos começar pelo trio:
Harry tem seu lado sombrio revelado no quinto livro, onde sua impaciência e desconfiança se acentuam. Também, ele se demonstra impulsivo e parcial em seus julgamentos durante toda a série. Hermione, por sua vez, é inteligente, mas J.K. conseguiu transformar essa admirável qualidade em uma fraqueza, pois ela acaba se mostrando a “insuportável sabe-tudo” e seu desejo de se provar para os outros chega a ser irritante, bem como seu ceticismo fez com que ela se fechasse para novas idéias. Ron é o perfeito exemplo de como as vivências de um personagem moldam suas características: por ser o mais novo de seis homens, sua autoconfiança e auto-estima são baixíssimas, o que faz com que acabe agindo de maneira mesquinha e ressentida para com os amigos.
Se os três personagens principais já são bastante defeituosos – portanto, bastante humanos – imagine o que nos aguarda no fantástico mundo dos personagens secundários?
O núcleo d’Os Marotos mostra que personagens “não-vilões” (com exceção do Rabicho) também podem cometer erros graves, quase imperdoáveis. Não há desculpa para a conduta de James Potter com Snape, ou de como Sirius parecia incitar no amigo este tipo de comportamento.
Até Dumbledore, que cumpria o papel de grande sábio e mentor, não escapou da benigna onda de humanização de J.K. Rowling. O bruxo teve seu pé na magia negra e cometeu diversos erros de julgamento no decorrer de sua jornada.
Consegui citar apenas os principais exemplos, mas diversos outros podem ser encontrados nas páginas de Harry Potter. A verdade é que defeitos são indicativos de “algo mais”: algo além da superfície da história, que nos remete tanto ao passado dos personagens quanto ao seu interior. A imperfeição é capaz de abrir um leque de possibilidades que, de outra forma, jamais seria possível. Cabe aos bons autores se utilizar deste leque, e aos bons leitores, apreciar personagens verdadeiramente humanos.
Coluna: Jade Arbo
por Gustavo D.
Oh, desculpem estragar seus sonhos fanzinhas de Twilight, mas seu vampirinho perfeito não existe.
ResponderExcluirJá é uma infelicidade extrema ele existir na literatura... Ainda bem que o mundo real está a salvo.
ResponderExcluirEu gosto dele do jeitinho que é, ainda que perfeito, ou por consequência disso.
ResponderExcluirTodos eles, aliás.
:DD
(E não fui eu que votei em Trasgo dessa vez) õO
Mãe eu to na coluna hsuahsuahsua
ResponderExcluirEntão... São as imperfeições que deixam o personagem interessante, pq pessoas perfeitas são chatas. Sem mais.
E eu discordo q o Edward seja perfeito... ele briha no sol... q tipo de pessoa brilha no sol? quer defeito maior que esse?
Tu ta ficando boa nessa parada ein.
ResponderExcluirQuase tenho um pouco de orgulho em te conhecer.
Quem diria que esse dia iria chegar.
Quem votou trasgo lá? Não fui eu, sério.
ps.: cara demorei uma vida pra sair daquele troço que tu me mandou o tal do google mais, o piromba chata aquela.