Um Fantasma nas Masmorras
Seguindo o exemplo da nossa querida colunista Aline Freitas, resolvi também entrar no esquema e postar aqui uma breve e humilde parcela dos meus conceitos e opiniões sobre o mundo criado por J.K. Rowling. Escolho um objeto de estudo previsível para quem já me conhece, vasto em conteúdo e sobre o qual muito conversei com a amiga Camila Peres, em nosso frenesi de fãs: Severus Snape.
Quando parei para pensar em qual dos aspectos do mestre de poções eu abordaria na minha primeira coluna, me lembrei imediatamente do livro que li recentemente, “E O Vento Levou”, e o pano para manga que ele deu na discussão sobre o que é amor e o que não é. Lembrei do amor incondicional de Snape por Lily, e logo fiz a relação.
Nesse livro, a protagonista, Scarlett O’Hara, vê a vida harmoniosa e pacífica do Sul ser convertida em pó, fome e pobreza pela Guerra Civil Americana, por volta de 1860. Nestes tempos confusos e incertos, a única coisa sólida em sua vida é o amor que tem por Ashley Wilkes, marido de sua cunhada. Este amor vinha dos tempos áureos, quando a vida ainda era bela e pacífica. Quando vem a tormenta e Scarlett tem de recorrer a meios não muito exemplares para conseguir estabilidade financeira e segurança para a família, é no seu amor por Ashley que se sente justificada, admirada e redimida. Mas o que raios, pergunta-se o leitor, tem isso a ver com Severus Snape?
O amor que Scarlett sente por Ashley Wilkes independe de quem Ashley Wilkes realmente é. Na verdade, mais adiante ela descobre que durante todo aquele tempo havia amado alguém que não compreendia, alguém que sequer conhecia de fato. Ora, o princípio deste amor é bastante semelhante ao de Snape por Lily.
Sempre a vi como um fantasma percorrendo as masmorras, impossível de ser expurgado, tais eram as raízes que o prendiam na alma de Snape: Primeiramente o sentimento de culpa por ter sido indiretamente responsável pela morte dela faz renascer sua memória na mente do mestre de poções, aparentemente dormente durante seus primeiros anos de Comensal, como algo distante no passado que já não tinha mais importância prática.
A súbita consciência de seus erros e de suas falhas de caráter que se deu após a morte de Lily o faz desejar redimir-se, e esse desejo apenas colabora para eternizar a lembrança renascida. O mestre de poções faz dela um ídolo, algo sagrado em que se agarrar – e ao mesmo tempo este amor não deixa de ser uma forma de penitência.
O ingrediente que sela esta receita para a eterna platonicidade de um sentimento é o aparente despropósito e instabilidade da vida de quem o sente. Snape, como Scarlett, vê seu mundo ruir. Após a morte de Lily, começa a questionar suas escolhas e seus princípios, e busca no amor por Lily um propósito e um pilar de estabilidade em tempos incertos.
Pelo fato de que o advento deste amor ter sido após a morte de Lily é que chamo-a de fantasma. Como todo grande amor platônico, o objeto deste amor não é Lily em si, mas o fantasma dela, uma mera projeção do que Snape esperava que ela fosse, e cuja existência independe das características da original.
Se isso é amor ou não, vai da impressão de cada leitor. Há quem diga que Snape ama Lily, há quem diga que não. Eu, como tentei mostrar com esse artigo, acho que Snape ama sim, intensa, leal e devotadamente, mas quem quer que seja o objeto de seu amor, não é Lily Evans.
Jade Arbo
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por: Gustavo D.
Humm, por acaso concordei com a colunista, amor platônico as vezes são mais concretos do que se imagina...
ResponderExcluirBelo texto, aliás, ainda sou teu fã ;)